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O risco do uso indiscriminado dos benzodizepínicos

Com muita frequência, os pacientes chegam ao consultório psiquiátrico apresentando queixas como falta de concentração e memória. Não é incomum que esses mesmos pacientes estejam usando cronicamente medicações como os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, alprazolam, etc.), que pioram os parâmetros cognitivos.

Os benzodiazepínicos, uma classe comum de medicamentos empregada para diferentes tipos de problemas psiquiátricos (como ansiedade generalizada, ansiedade social, pânico e insônia), são drogas que raramente necessitam de prescrição continuada, ou seja, são receitadas por pouco tempo, como auxiliares da medicação principal, e devem ser descontinuadas. Isso porque apresentam um potencial imenso de causar abuso e dependência (não à toa recebem uma tarja preta na caixa), com a necessidade de doses cada vez mais altas para que se obtenha a ação esperada.

Há muito tempo os médicos já perceberam que os essas medicações causam problemas de memória e cognição, mas ainda não se sabia se poderiam levar a um estado demencial permanente. Um estudo publicado em 2014* avaliou a relação entre o uso dos benzodiazepínicos e o diagnóstico de Doença de Alzheimer, transtorno que responde pela maioria dos casos de demência. Os autores descobriram que, em idosos, essa classe de medicamentos (ou o uso dela no passado por mais de três meses) aumentava em até 51% os riscos de desenvolvimento de Alzheimer e que o risco crescia de acordo com a densidade da exposição e conforme o uso de benzodiazepínicos de ação prolongada (como o diazepam, por exemplo).

O envelhecimento e o crescimento da população farão com que a doença de Alzheimer seja cada vez mais comum. Trata-se de um problema que traz grande sofrimento ao doente e à família. Por isso, o uso indiscriminado de benzodiazepínicos, como um fator  de risco modificável, deve ser tratado como política prioritária de saúde pública.

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*Billioti de Gage S, Moride Y, Ducruet T, Kurth T, Verdoux H, Tournier M, et al. Benzodiazepine use and risk of Alzheimer´s disease: case-control study. BMJ 2014; 349:g5205.

Comentários

  1. Bom dia Dr. Régis, realmente o uso indiscriminado de Benzodiazepínicos é algo preocupante para os pacientes que precisam fazer uso dessa classe de fármaco.
    O Dr acha que a Farmacogenética poderia beneficiar alguns desses pacientes, se a informação de como esses fármacos reagem no organismo desses pacientes, pudesse ser analisada antes de iniciar o uso desses medicamentos?

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